Falar de doação de órgãos ainda é um tabu. De cada 14 pessoas que manifestam interesse em doar, apenas quatro acabam efetuando a doação. Um dos principais obstáculos é a recusa familiar. Neste ano, o tema da campanha do Ministério da Saúde sobre o tema será: “Doação de órgãos: precisamos falar sim”, que alerta para a necessidade do diálogo sobre a doação e a desmistificação do assunto.
Dentre os motivos para não autorizar a doação, estão: a não aceitação da manipulação do corpo, crença religiosa, medo da reação dos parentes, desconfiança da assistência e a não compreensão do diagnóstico de morte encefálica – quando se crê que é possível reverter o quadro. Por isso, falar sobre o assunto é o primeiro passo para se tornar um doador.
Além do doador ter a opção de informar em vida o seu desejo, a família também precisa comunicar à equipe médica sobre o ato. O processo inverso também é importante: os profissionais de saúde são parte essencial no diálogo com familiares e a sociedade como um todo.
A coordenadora-geral do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde, Patrícia Freire, também explica que, apesar dos números de doações estarem cada vez maiores, a lista de espera por um transplante continua grande. “Conversar sobre o tema é uma forma de quebrar barreiras, fortalecer a confiança e saber do desejo de cada um. Um dia, a família que doou órgãos pode precisar de um doador”, lembra.
Transplantes no Brasil
No primeiro semestre deste ano, 14.352 transplantes foram viabilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o país. O número já é maior que o de 2023, quando foram registrados 13,9 mil durante o mesmo período. Os órgãos mais doados foram rins, fígado, coração, pâncreas e pulmão, além da córnea e medula óssea, que são tecidos.
No total, 4.580 órgãos e 8.260 córneas foram doados nos primeiros seis meses de 2024. O aumento em relação a 2023 foi de 3,2%. Se considerarmos apenas os transplantes de órgãos sólidos, o crescimento foi de 4,2% neste primeiro semestre do ano.
O SNT é o maior programa público de transplantes do mundo, responsável pela regulamentação, financiamento, controle e monitoramento do processo de doação e transplantes realizados no Brasil. Cerca de 88% do custeio é realizado pelo SUS, que atualmente conta com 1.197 serviços distribuídos em 728 estabelecimentos habilitados para a realização de transplantes em todos os estados.
Atualmente, mais de 43 mil brasileiros estão na lista de espera de transplante. Para vencer a desproporção entre número de pacientes na lista e número de transplantes realizados, é importante identificar e notificar os óbitos, principalmente os de morte encefálica, preparar os profissionais de saúde e conscientizar a população sobre o processo de doação e transplante, fazendo com que os familiares autorizem a doação, no caso da morte de entes queridos.
A doação de órgãos é o ato em que uma pessoa, viva ou falecida, doa órgãos para salvar a vida de outra pessoa que está doente.
Na maioria das vezes, o transplante pode ser a única esperança de vida ou a oportunidade de um recomeço para as pessoas que precisam do procedimento. O gesto solidário de familiares de um mesmo doador pode beneficiar várias pessoas e milhares de vidas podem ser salvas.
Além dos órgãos coração, pulmões, pâncreas, fígado, intestino e rins, medula óssea e tecidos como córnea, pele, músculos, tendões, ossos, veias, artérias e valvas cardíacas também podem ser doados.
A legislação em vigor no Brasil determina que a família seja responsável pela decisão de doar ou não os órgãos de seu ente falecido.
Após a confirmação da morte de um paciente, a equipe médica entra em contato com a família para comunicar o óbito e explicar o processo de doação. É o momento de tirar todas as dúvidas dos familiares e da família conversar, refletir e tomar a decisão mais adequada. Mesmo em meio à dor, é possível salvar outras vidas pela doação de órgãos.
No caso de doador vivo, a pessoa maior de idade e capaz juridicamente pode doar órgãos a seus familiares. Para a doação entre pessoas não aparentadas é exigida autorização judicial prévia. Entre vivos podem ser doados um dos rins, parte do fígado, parte da medula e parte dos pulmões.
Os potenciais doadores não vivos são pessoas com quadro de morte encefálica, ou seja, morte das células do Sistema Nervoso Central, que determina a interrupção da irrigação sanguínea ao cérebro, incompatível com a vida, irreversível e definitiva.
O Dia Nacional da Doação de Órgãos foi instituído pela Lei nº 11.584/2007 com o objetivo de promover a conscientização da sociedade sobre a importância da doação. A campanha pretende, ao mesmo tempo, estimular as pessoas para que conversem com seus familiares e amigos sobre o assunto, informando seu desejo de ser doador.
Mais informações sobre todo o processo de doação de órgãos para transplante estão disponíveis aqui!
Fontes:
Associação Brasileira de Transplante de Órgãos
Ministério da Saúde
Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas da Universidade Federal da Paraíba
Tribunal Regional Eleitoral do Paraná